quinta-feira, 1 de outubro de 2009

CAVACO – SÓCRATES
POR UMA BOA RETALIAÇÃO


Antes de tudo, sobre as vigilâncias ou escutas, poderá existir muita coisa desconhecida. Até agora, não há razões para confirmar o que seja. Então, nada mais a dizer sobre este enredo tosco e manhoso, seja quem for responsável.
O que é relevante e há muito existe é um péssimo clima político que da fricção passou à confrontação entre Belém e S. Bento. São consequências das duas faces de Sócrates e Cavaco, personagens políticas com duas peles que persistem em cultivar uma imagem que não os dignifica. E nesta altura já não há inocentes.
A comunicação do Presidente e a resposta socialista devem merecer atenção. Cavaco desceu do plano institucional ao plano pessoal, e denunciou uma manobra de condicionamento urdida pelo partido do governo para o ligar a interesses do PSD. O PS procurou devolver a acusação com um contra-ataque fundado na inexistência de qualquer prova sobre vigilância da Presidência. Surpreendente foi o tom acutilante da comunicação de Cavaco e o alinhamento dos socialistas por idêntico discurso. Estes, acabaram por desperdiçar a oportunidade de se colocarem em nível superior, se tivessem respondido noutro registo. Intervenções lamentáveis.
Da parte do PS ou do governo, os últimos tempos têm sido de quezília, senão de afronta, com Belém. Apesar disso, no que se refere ao caso das escutas, mantém toda a legitimidade para afirmar que a trama não passa de uma invenção.
Da parte do PSD, com o consulado de Ferreira Leite ressuscitou o fantasma do cavaquismo e a incapacidade de o afastar definitivamente. Mais não fosse, para evitar acusações do favorecimento presidencial que, na verdade, nunca se verificou. Assim, legitimamente, reclamaram pelo facto de Cavaco não ter falado antes das eleições. Mesmo sendo óbvio que nas circunstâncias actuais, o silêncio ou a palavra, o que fosse e quando fosse, prejudicaria sempre os interesses social-democratas.
O que de essencial resulta deste conflito em crescendo? Se até agora só havia atrito, subitamente o país é surpreendido com uma assumida hostilidade. Representa o regresso do Cavaco conflituoso e do Sócrates confrontador. O menos aconselhável num momento crítico como o presente.
Cavaco agiria de igual forma se o desfecho eleitoral fosse diferente? Seria um contra-senso, tanto se o PSD fosse o vencedor como se o PS tivesse a maioria absoluta. Falaria apenas sobre as questões de segurança, vagamente, com a serenidade com que sabe estar, não atacando quem quer que fosse. Falar antes da jornada eleitoral é que nunca aconteceria. Atento ao que considerou manobra socialista, não ofereceria a Sócrates o excelente motivo para a derradeira dramatização.
Então, o que pretende Cavaco? Sem entrar por elaboradas conjecturas, poderá ser uma estranha “retaliação institucional”. O reflexo da sempre lembrada quebra de compromissos protagonizada por Sócrates. Objectivo: recolocá-lo onde estava, no começo da legislatura. Isto é: recuperar a cooperação institucional.
Hoje, concordaremos que é Sócrates quem mais precisa dessa paz. A propósito, Vilaverde-Cabral referia: “O que se antevê é uma difícil convivência institucional. Algo que é mais difícil para Cavaco. Sócrates não tem a mesma estatura política.”

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