segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ELEITO COM ADVERTÊNCIA


Antes de mais, salientar a eficácia da máquina de propaganda do PS nestas eleições. Com o líder comandado pelos técnicos do marketing político, desempenhando o seu papel na perfeição, tudo funcionou sem falhas. Sócrates venceu.
Nas prolongadas semanas de exclusivos actos de campanha, não houve crise nem houve governo. O país parou, pôs de parte desconfianças e mágoas para se reencontrar com o homem que escolhera para mandatário e de novo lhe confiar os seus destinos. Todos os casos embaraçosos para o primeiro-ministro deixaram de o ser ou de o condicionar. Desta espécie de amnésia colectiva, mais do que o perdão para o homem comprometido, emergiu um renovado entusiasmo com o líder insuspeito que a difamação quis destruir.
Neste período que não terminou com a eleição de ontem, tudo tem sido tratado até ao último pormenor. Com este cuidado, Sócrates cometeu a proeza de remover do palco onde tão bem se movimenta, todo e quaisquer obstáculos. Foi assim que na fase final destas legislativas, os episódios surgidos nem chegaram a ser casos problemáticos, perante o ímpeto avassalador da máquina do socratismo. Falta saber até que ponto esta dinâmica da espectacularidade afectou a modesta prestação da principal alternativa de poder. Do PSD apenas se pode registar uma derrota por falta de comparência.
Apesar da escassez dos resultados e da delicadeza das soluções governativas, Sócrates reagiu com exuberância excessiva à sua vitória eleitoral. Como futuro governante, sensato seria mais prudência e menos entusiasmo. O poder de que irá dispor será demasiado frágil e volátil. Um governo minoritário e com suporte parlamentar complicado, exigirá uma grande capacidade negociadora para evitar que seja efémero. Porque o conhecemos, sabemos que não foi pela negociação que Sócrates se distinguiu. Assim, não será difícil vê-lo retomar posturas de intransigência disfarçadas de determinação. A sua ambição desmedida, em nada encontrará obstáculo que lhe impeça a ascensão que persegue obstinadamente. O seu percurso, é exemplo disso.
Na verdade, deste primeiro-ministro reeleito, os portugueses deviam esperar, senão exigir, um chefe de governo mais preocupado com o destino nacional do que com a sua ambição política. Para que não se confirmem os sinais deixados pela sofisticada propaganda socialista: mais capacidade para ganhar eleições do que competência para governar o país.

Sem comentários: