segunda-feira, 28 de outubro de 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
sábado, 19 de outubro de 2013
Dragão 'puro' ou 'pombinha'?
INQUIETAÇÕES
“Os dragões não são todos iguais: há os dragões, dragões, e
os dragões pombinha. Os dragões, dragões, os puros, são aqueles adeptos para quem o F. C. Porto está sempre em primeiro. Sempre em primeiro
lugar, mesmo quando não está no primeiro lugar. Os dragões pombinha são os
outros, espero eu que uma minoria, que gosta do F. C. Porto, mas também gosta a
seguir de muitas outras coisas, como a Selecção. Um dragão, dragão nunca acha
que pode ser mau vencer tudo. Enquanto um dragão pombinha se resigna quando o
F. C. Porto é espoliado e até defende ser bom para o futebol português haver
outro clube a ganhar, depois de cinco anos seguidos de triunfos. Um dragão
pombinha é sempre pelos clubes portugueses nos jogos das competições europeias…”
“O novo presidente da Câmara do Porto é um portista assumido
e já deu provas bastantes do seu ‘portismo’ militante. Rui Moreira ainda na passada semana em entrevista ao JN se confessou um portista titular
de um dragon seat’. Já toda a gente percebeu, como me disseram vários portistas
amigos, que com o novo presidente vamos poder festejar os títulos na Câmara da
nossa cidade. Mas o que Rui Moreira tem afirmado a este propósito, também tem a
ver com estas duas raças de dragão. Um dragão, dragão que chega a presidente
abre as varandas da Câmara e prestigia a festa com a sua presença. Um
presidente pombinha manda abrir as portas da Câmara mas depois refugia-se no
meio da maralha, com medo da sacrossanta promiscuidade. Pode passar a noite em
cânticos ou aos pulinhos, mas nunca dirão dele que se associou à vitória do
principal clube da cidade. Embora pombinha na campanha, espero ter um
presidente dragão, dragão na primeira oportunidade. Mesmo que não aceite
levantar a taça.” (Manuel Serrão)
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Superioridade moral decadente
Achava muito apropriado que a CGTP fizesse a sua
manifestação na ponte sobre o Tejo. Afinal que monumento temos que melhor
simbolize os especiais privilégios da esquerda portuguesa do que esta ponte? Legalmente
nascida "ponte que atravessa o Tejo" seria oficialmente designada
como ponte Salazar. Depois passaria a 25 de Abril num processo cuja encenação
fez parte da pressão da esquerda radical. Sábio, o povo que nunca chamara
Salazar à ponte também não lhe passou a chamar 25 de Abril. Mas para quem
tivesse dúvidas as regras ficavam ditadas: a ponte que era má porque era
fascista tornou-se boa assim que revolucionariamente baptizada. Enfim, uma
coisa pode em Portugal ser boa ou má consoante seja associada à esquerda ou à
direita, respectivamente... Helena Matos
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Legados da boa gente
CONFIANÇA
Anda por aí gente preocupada, porque a redução das pensões
aos reformados do funcionalismo público pode reduzir e abalar a confiança no
Estado. Isto não se compreende. Até há muito pouco tempo o Estado só aparecia
ao cidadão comum por três razões: para lhe tirar dinheiro, para o meter na
tropa ou, mais raramente, para o prender. Nunca inspirou qualquer respeito e
era universalmente detestado. Durante a monarquia tradicional o rei ainda inspirava
alguma deferência, mas não os seus ministros, que os portugueses letrados
consideravam invariavelmente ineptos, corruptos, quando não pura e simplesmente
servos da Inglaterra ou da Espanha, ou seja, traidores sem atenuante ou sem
desculpa. A opinião da classe média e da nobreza sempre os desprezou, mesmo se
lhes pedia empregos ou sentenças favoráveis nos tribunais do reino.
Com o liberalismo as coisas pioraram. O rei já não encarnava
o Estado e já não oferecia sombra de protecção à turba tumultuária, civil e
militar, que passava efemeramente pelo governo ou pelo parlamento. O tema da
essencial perversidade do Estado acabou por se tornar um tema obrigatório da
nossa literatura. Eça contava que nos salões da "alta sociedade" (por
exemplo, no salão da Gouvarinho) não se recebiam políticos, "porque as
senhoras tinham nojo". Esta atitude não mudou durante a República e a
Ditadura. Os criados de Salazar não mereciam mais do que boas maneiras, que
eles, como de costume, pagavam com favores. Depois do "25 de Abril",
algumas pessoas de uma acentuada ingenuidade pensaram que o Estado ia
finalmente deixar de ser um "covil de ladrões" . Erro crasso.
Os jornais de hoje revelam escândalo sobre escândalo,
que na generalidade envolvem o Estado ou antigos dirigentes do Estado. Do BPN
ao desaparecimento dos dossiers a pingadeira não pára. E previsivelmente não
vai parar. O tal buraco de que tanto se fala não é só um buraco financeiro, é
também o buraco dos "negócios" do Estado, que, pelos nossos 308
municípios, penetraram Portugal inteiro, de Lisboa à mais remota vila de
Trás-os-Montes. Há por aí grandes cemitérios de escândalos à espera que a
miséria e o desespero do país se transforme em raiva e os desenterre. Os
regimes morrem assim. Se a população não conserva o mais leve vestígio
Vasco Pulido Valente - Público
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Loucas vias do incumprimento
Dizem por aí que não há alternativa à austeridade. Isto é
uma das poucas coisas que irritam quase tanto quanto a austeridade. Para tanta
gente que está certa de que o problema nacional é a política do Governo,
afirmar-se que ela não tem alternativa parece uma tolice. Então e os múltiplos
opositores, não seriam eles capazes de encontrar opções? Dizer que algo não tem
saída é apenas mostrar a própria ignorância. A dificuldade não está em achar
outros caminhos; o que é raro é que sejam melhores do que os que temos. Aí,
dizem os críticos, a resposta é óbvia: dado este ser tão mau, qualquer outro é
preferível. O que evidencia a ignorância de quem o afirma… João César das Neves
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Com audiências nada exigentes
AS FUNÇÕES DA RTP
Já se percebe por que razão Paulo Portas, num gesto único de
autoridade, não deixou fechar a RTP: o governo precisava, como sempre, de uma
estação que não hesitasse em fazer a sua propaganda. Qualquer propaganda, desde
o chamado "alinhamento" à desavergonhada fraude do programa de
anteontem O País Pergunta, um puro "tempo de antena" de Pedro Passos
Coelho. Não é por acaso que se escolheu a quarta-feira anterior à discussão e
apresentação do Orçamento (sábado, domingo e terça, 15). A maioria tinha de ser
amaciada, o público de ser metodicamente enganado e o primeiro-ministro de
estabelecer a sua supremacia na coligação. O País Pergunta conseguiu tudo isto
e, pior ainda, misturar à coisa um cheirinho democrático para maior sossego dos
tolos.
Como? Para começar, o director de Informação da RTP e o
apresentador Carlos Daniel "analisaram" e escolheram as perguntas que
o "país" podia fazer a Passos Coelho. Ostensivamente para evitar
"repetições"; na verdade, para evitar um embaraço ou uma surpresa ao
"chefe" da caranguejola que por aí se chama governo. O resultado
destes trabalhos preliminares permitiu ao interessado eliminar o que lhe
apeteceu e preparar à vontade as respostas mais convenientes. O que, em
princípio, não é difícil. O primeiro-ministro sabe o essencial do que se passa
(e do que se passou) na administração do Estado, ignora o "país"
quando lhe apetece e aproveita a oportunidade para se expandir por assuntos que
não vêm a propósito e se destinam a glorificar a sua política e a sua pessoa. Claro
que, para o "povo" ali "representado", não há espécie de
direito de réplica.
Na Inglaterra ou na América (onde a RTP foi buscar a
inspiração ao velho Face the Nation), o "país" não é um conjunto
aleatório e obediente de particulares, que o director de Informação
pressurosamente juntou. Quem fala por ele é normalmente um jornalista ou dois,
pouco susceptíveis de se intimidarem com o palavreado oficial e capazes de
mostrar a verdade que os políticos lhe querem esconder. A segurança da
pergunta-resposta não existe. Existe um debate duro, como existiria em Portugal
se à frente de Passos Coelho estivessem, por exemplo, Miguel Sousa Tavares,
Pacheco Pereira ou o meu amigo Rui Ramos. Em vez disso, como lhe compete, a RTP
preferiu a farsa. Uma farsa que o primeiro-ministro aceitou ou por falta de
inteligência ou por um oportunismo pueril e contraproducente.
Vasco Pulido Valente - Público
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
domingo, 13 de outubro de 2013
A caranguejola do improviso
PRODIGALIDADE E IMPROVISAÇÃO
Não sou capaz de escrever sobre as trapalhadas diplomáticas
que o dr. Rui Machete nos resolveu arranjar. Nem sobre o envolvimento da
ministra das Finanças com os chamados swaps. Nem sobre um governo com duas
cabeças, que não abre a boca senão para desdizer o que disse na véspera ou para
mentir com quantos dentes tem. A crise não desculpa tudo. Da crise não decorre
necessariamente o caos político a que nos levaram ou a inépcia da gente que nos
pastoreia. Era possível, em princípio, um pouco de ordem, dignidade e decência,
que não há, e já se viu que não vai haver. A feira que por aí se instalou só se
distingue da longa feira do velho Portugal histórico pela ausência de golpes de
caserna e de guerras civis, quase sempre encenadas. No resto nada mudou.
Paulo Portas de quando em quando rosna algumas frases sobre
os malefícios do "protectorado". Não se lembra com certeza que
vivemos sob o "protectorado" inglês, pelo menos, desde 1807, com uma pequena
atenuação durante a Ditadura, porque a Ditadura obedecia religiosamente ao que
Londres lhe mandava. Como hoje ele e o inconcebível escuteiro que passa por
primeiro-ministro obedecem à sra. Merkel. A sra. Merkel quer que Portugal se
torne na pequena Alemanha que ela fabricou: com salários relativamente baixos,
com um Estado social equilibrado e comportável, com uma produtividade decente e
uma economia sustentada pela exportação. E com ordem, segurança e zelo. A dama
não conhece Portugal e não compreende o absurdo desta receita.
Hergé percebeu melhor os portugueses. O sr. Oliveira da
Figueira é um retrato mais fiel do que nós somos do que as centenas de gestores
de gravata que por aí se passeiam e que Passos Coelho tão bem encarna e
simboliza: na sua conversa, na sua ignorância e nas fantasias que vende a um
público que ele julga crédulo e pateta. Hoje e amanhã, os ministros, reunidos
num especialíssimo conselho, irão aprovar um orçamento de remendos, de
retalhos, de uma ou outra ocasional trafulhice e em geral de uma suma e
desavergonhada hipocrisia. À prodigalidade sucede agora a improvisação. E a
improvisação não permite a ninguém planear coisa nenhuma. O país continuará ao
acaso no caminho da miséria e do desespero. Mas suspeito que Passos Coelho não
se incomoda. Como se incomodaria, se ele nunca pensa?
Vasco Pulido Valente - Público
sábado, 12 de outubro de 2013
Quando só o estilo é tudo
Qual é a pressa? Se tudo pode resolver-se com os mínimos, no último jogo, feitas as contas finais de ganhos e perdas, por mais insólitos que sejam os cálculos. Só falta desertarem todas as estrelas e deixarem o encargo aos habituais suplentes. Porque a principal tarefa dos craques é cuidar da imagem.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Da falta de jeito de quem governa
Os cortes no domínio da segurança social não deviam surgir
isolados. Deviam fazer parte de uma reforma profunda que respondesse a duas
grandes questões: que sistema vai garantir a reforma dos que estão a meio do
percurso contributivo? os jovens que no futuro próximo entrarão no mercado de
trabalho vão descontar para este sistema falido ou será criado um sistema novo?
Mas o governo continua mudo sobre este ponto. O primeiro-ministro ainda não
percebeu que um político começa sempre pela solução e não pelo problema. No
actual contexto, um político reformista devia encontrar soluções para o futuro
do sistema. Só depois devia lamentar a insustentabilidade do sistema de
protecção social… Henrique Raposo
Seguramente inseguro
O dr. Seguro, por pressão dos partidos à sua esquerda (que
sempre recusaram o Memorando assinado com a Troika), e pela rapidez com que a
estrutura e a militância socialistas se queriam ver livres dessa "mancha
pecaminosa", progressivamente foi-se sentindo constrangido e também se
desresponsabilizou. Discursa, discorre, afirma não o que o País precisa, mas ou
o que os seus "medos" querem ouvir, ou aquilo que não prejudique a
sua liderança. O País está depois, o PS primeiro. Esse é o problema. Era melhor
alguma prudência e verdade, alguma aderência à realidade que nos rodeia. Seguro
sacrifica isso em nome da glória momentânea, que ainda por cima não há meio de
lhe chegar... Ângelo Correia
O crime e a mansidão
A NOSSA MANSIDÃO
Há duas semanas, um tribunal resolveu notificar o sr. José
Oliveira Costa para o julgamento de um novo "caso" do sr. Duarte
Lima. Para grande espanto do tribunal e da generalidade dos portugueses, o sr.
Costa tinha desaparecido. Passaram uns dias. A sra. ministra da Justiça, Paula
Teixeira da Cruz, declarou em público que achava "muito estranha" a
dificuldade de encontrar um indivíduo com "uma pulseira electrónica"
no tornozelo (ou no pulso).
A sra. ministra ignorava que o sr. Costa já não usava
qualquer "pulseira", que só estava sujeito à mais branda das
"medidas de coacção" (o "termo de identidade e
residência"), que se podia livremente ausentar durante cinco dias, quando
bem quisesse e lhe apetecesse e, pior ainda, que pedira um passaporte ao SEF, que
também não percebeu nada da trapalhada em curso.
O sr. Costa acusado da fantástica fraude do Banco Português
de Negócios é hoje a única personagem dessa santa façanha, de que a lei, a
televisão e os jornais se continuam a ocupar. Ao princípio, uma dúzia de
notabilidades pareciam implicadas no assunto. Mas, depois, pouco a pouco,
acabaram por se esquecer e conseguiram voltar ao doce conforto do anonimato,
com o nosso dinheiro. De qualquer maneira, custa a acreditar que o sr. Costa
fizesse pessoalmente e sob sua única responsabilidade afundar o BPN e roubar a
quantidade de contribuintes que o banco roubou. Com certeza que o ajudou um
considerável número de colegas, com influência financeira e política. E, no
entanto, ninguém abre a boca sobre esses beneméritos, que já foram semi-reabilitados
e aparecem, como quem não quer a coisa, nos restaurantes de Lisboa e até na
sede de um partido.
O Estado tem hoje 12.000 processos contra os devedores do
BPN e anda em negociações (suponho que amigáveis) com mais 6000. No meio disto,
o sr. Costa é um colaborador ou simplesmente um bode expiatório, destinado a
proteger os seus cúmplices e a esgravatar por aqui e por ali uns tostões para o
governo? Mas, mais grave do que tudo o resto, porque misteriosa razão, cinco
anos depois do "escândalo BPN", os tribunais não o puseram ainda no
banco dos réus, com o bando de cúmplices que o serviu? Por medo de revelações
que não convêm ao regime ou parte dele? Por dificuldades jurídicas? Por mero
excesso de papelada? Nós somos de facto um povo muito manso.
Vasco Pulido Valente - Público
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
O ministro das manchetes
Rui Machete, com os sucessivos tiros nos pés, pode dizer
estar a ser vítima de assassinato político. No entanto apenas está ser vítima
de si próprio… Paulo Pinto Mascarenhas
Hipotecar futuro dos mais novos
Após ter havido quem se reformasse com pensões acima do seu
salário, após existir quem considera um direito adquirido receber
automaticamente uma pensão de sobrevivência independentemente do valor dos seus
rendimentos... quem se reformar daqui por alguns anos não levará senão 60 a 65
por cento daquilo que foi o seu último ordenado. Ou ainda menos se a
sustentabilidade presente do sistema não obrigar a tomar mais medidas. Porque
por muito que custe admiti-lo, a verdade é que todos os cortes efectuados até
agora não significaram que Portugal gaste menos em pensões… Helena Matos
Chatear o Camões
O chamado retrato de Camões na prisão foi revelado por Maria
Antonieta Soares de Azevedo em 1972. Sendo um testemunho muito importante, este
retrato não é propriamente uma obra de arte. A peça é de execução tão
imperfeita quanto colorida. O desenho é tosco e desajeitado, com flagrantes erros
de perspectiva e de escala. Mostra um Camões arruivado, de guias do bigode
assimétricas, sentado a uma mesa, segurando uma travessa na mão direita e uma
pequena peça escura na esquerda. Estará prestes a trabalhar num dos cantos de
Os Lusíadas. O poeta parece dispor de um certo "conforto
intelectual": vemos vários cartapácios na parede, pode consultar uma carta
geográfica que tem perto de si, certamente para verificar qualquer afirmação ou
referência do poema. Mas o gibão está roto na manga esquerda e a comida
representada não parece abundante. Não sabemos se a prisão em que o poeta se
encontra é a de Goa ou a da Ilha de Moçambique... Vasco Graça Moura
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Fim de Jesus é o fim de Vieira
Os benfiquistas estão fartos de Jorge Jesus. Mas, atenção, o grande responsável por esta situação não é
Jesus. O culpado é o Presidente Vieira. O tema de debate não devia ser o pós-Jesus, mas sim o
pós-Vieira. Toda a gente antecipou este cenário, Vieira foi a única
pessoa no planeta que não quis ver o óbvio. E que jamais volte com a treta do voto de confiança no treinador. Henrique Raposo
Elites e inteligências
O "Jornal de Angola" de hoje mantém o tom dos
últimos dias e volta a atacar as “elites portugueses ignorantes e corruptas”,
porque adoptam “posições nada lúcidas e pouco inteligentes". O artigo
salienta que “nos dias de desespero os dominadores da máquina mediática
portuguesa sobem de tom e recorrem ao insulto reles e grosseiro contra os
dirigentes angolanos eleitos pelo povo”. O diário angolano conclui ainda que
José Eduardo dos Santos e o MPLA têm “um fortíssimo e inegável apoio popular e
isto não agrada a Portugal”. Por fim e na linha da reciprocidade de tratamento,
“se em Portugal continuam a chover insultos e calúnias, não podemos continuar
pacientemente à espera que a inteligência ilumine as elites portuguesas
corruptas e ignorantes”. A resposta nestas circunstâncias só pode ser uma: "Reciprocidade".
Quadrilhas políticas domésticas
A LOUCURA
Apesar da CNE, a televisão acabou como sempre por
influenciar os resultados de 29 de Setembro. Em primeiro lugar, os partidos
começaram por escolher personalidades da televisão, pelo menos, para as grandes
cidades. Claro que ninguém discutiu o lugar e os direitos de António Costa. Mas
convém lembrar que António Costa teve durante muito tempo uma sessão de
propaganda semanal na Quadratura do Círculo e que, com a prestante ajuda de
Pacheco Pereira, conseguiu impor a imagem de um homem informado, inteligente,
conciliador e calmo. Muitos dos votos que o eleitorado lhe deu vieram
directamente da SIC. Já o abismo entre o comentário desportivo e a política
séria engoliu facilmente o sr. Seara, que, de resto, não se ajudou a si próprio
com uma campanha incoerente e megalómana.
Verdade que Rui Moreira também aproveitou de um programa de
futebol que o tornou uma figura nacional. Mas, nesse programa, Rui Moreira
representava o FC do Porto, que o patriotismo paroquial do sítio recebeu com o
entusiasmo do costume, e era, além disso, um bom representante da burguesia
indígena, na qual (apesar de Camilo) a cidade se continua a rever. Até os
velhos mitos do cerco do exército liberal na guerra civil de 1832-34 se foram
buscar. Seja como for, na noite de 29, Rui Moreira passou a encarnar a rejeição
dos partidos, que ele mesmo sublinhou no discurso final em que longamente falou
no "Partido do Porto" e na superioridade dos portuenses. Pior ainda,
por aqui e por ali, apareceram outras personagens parecidas de vária pena e
pinta. E não se pode dizer que por acaso.
O facto de 54,6% dos portugueses se terem recusado a eleger
os partidos do regime (o PS, por exemplo, na sua enorme vitória, perdeu quase
200.000 votos) é uma condenação drástica da II República. Como a desordem
constitucional a partir de 1890, embora moderada pelo rei, claramente anunciou
o fim da Monarquia. Basta ver as reticências com que António Costa conseguiu
não se pronunciar sobre o cumprimento do seu mandato, e as cenas de faca e
alguidar do último conselho nacional do PSD, para se perceber que estes dois pilares
do "arco governativo" não estão muito preocupados com o destino do
país. No meio da miséria e da falência o que preocupa é a ambição das
quadrilhas domésticas, que o ódio, a inveja e o ressentimento transformaram num
objectivo absoluto. A loucura tomou conta da República.
Vasco Pulido Valente - Público
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Penduricalhos e más companhias
É a despedida do Major. Em Gondomar, varinhas-mágicas, torradeiras, e ferros-de-engomar, já deu o que tinha a dar. Para enaltecer a ourivesaria da terra e honrar os parceiros, acaba a dourar medalhas. Na hora dos brindes com "Porto sentido", correram lágrimas, soou o "apito" e lembraram "pecados velhos" de má memória. Há marcas indeléveis.
Queriam que Rui Machete mentisse
Pedir desculpas a Angola faz parte do nosso rosário
pós-colonial: carregar o fardo do homem branco continua a fazer cócegas em
muita consciências culpadas... João Pereira Coutinho
A farsa do estado social
"VIÚVAS ABONADAS"
'Estado social'. Inventada pela direita no século XIX
(Bismarck), esta ideia generosa vive dias de farsa no início do século XXI. Na
sua concepção original, o estado social servia apenas os mais pobres, era uma
forma de manter a sociedade unida, sem que ninguém ficasse de fora, sem que
ninguém caísse na indignidade. Era uma rede, não um modo de vida. Era uma
ajuda, não um poço de privilégios inflacionados. Ora, após século e meio de
praxis, podemos dizer que a ideia está muito longe da concepção original. Por
toda a Europa, o estado social é usado por grupos privilegiados da classe
média. Basta olhar para Portugal.
A história das pensões de viuvez é outro exemplo. 'Viúva' não
é escalão do IRS. Num país onde a média das pensões ronda os 400 euros, viúvas
com reformas abonadas não podem receber um suplemento. É injusto. A senhora x
deve receber a "pensão de sobrevivência" se a sua dignidade ficar em
risco após a morte do marido. Mas, se recebe uma reforma de 1000, 1500 ou 2000
euros, a dignidade da senhora x não fica afectada num país onde o salário
mínimo não chega aos 500 e onde o salário médio está entre os 800 e os 900
euros. Na verdade, esta ideia justa (apoiar a viuvez) está a ser deturpada por
milhares de abusos. Existem "pensões de sobrevivência" superiores à
reforma combinada de muitos casais. Que justiça social é esta? E quantas viúvas
continuam a ser viúvas mesmo depois de viverem décadas com um segundo 'marido'? Para se proteger quem realmente precisa, é necessário impor
um tecto máximo a partir do qual não haja direito a pensão de viuvez. Não é uma
questão financeira, é uma questão de moral pública. (Henrique Raposo)
No geral, as pensões de viuvez ou de sobrevivência reflectem
uma época em que a média salarial dos homens era muito superior à das mulheres;
ainda o é, mas muito menos... Henrique Monteiro
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Relacionamentos e manipulações
A ‘Casa dos Segredos’ é entretenimento em que só interessa a
‘realidade’ inventada para o ecrã. Os concorrentes sabem bem que os escolhem
para provocarem episódios, em especial ‘relacionamentos’. A ocupação dos
concorrentes também reduz a amostra para uma fauna pouco comum na sociedade. Um
tipo de jovens adultos desprendidos do mundo do trabalho ou do estudo que
querem entrar no mundo dos famosos da TV por aquilo que sabem fazer: conversa
de bar, interacção com pessoas da sua idade, exibição do corpo e
‘relacionamentos’ para singrar no ecrã da vida. As dinastias da celebridade já
saltaram do cinema para o universo leve da TV... Eduardo Cintra Torres
Um enorme problema, o País
Declaração de desinteresses. Nunca votei em eleições
autárquicas, não quero saber quem manda na autarquia da minha terra e, na
maioria das vezes em que penso nisso, preferia que não existisse autarquia
nenhuma. Deixem-me sonhar: um Governo Civil bem apetrechado, com meios para
delegar tarefas em empresas privadas, chegava e sobrava para o gasto. Com a
vantagem de que o gasto seria bem menor. E os nossos impostos também. Claro que
as câmaras municipais constituem os verdadeiros centros de emprego, mas enquanto
essa não for assumida como a sua real, e talvez única, serventia, não consigo
levá-las a sério… Alberto Gonçalves
Retorno do ciclo da degradação
O “5 DE OUTUBRO”
Este é o primeiro ou segundo ano em que não se comemora o
"5 de Outubro". Mas nunca a "estranha" queda da Monarquia
foi tão importante para compreender a política portuguesa. A origem dessa queda
começou na degradação dos partidos do regime (o Partido Regenerador e o Partido
Progressista), que pouco a pouco se dividiram em quadrilhas (cada uma com seu
chefe ou "marechal") e se combateram ferozmente com a prestante ajuda
dos revolucionários republicanos. A história começou com o vexame diplomático
do "Ultimato Inglês", continuou com sucessivas crises financeiras de
1890 a 1902, para acabar no assassinato de D. Carlos em 1908 e no caos que ele
necessariamente provocou. Durante vinte anos, nem os regeneradores, nem os
progressistas se conseguiram entender para fortalecer a Monarquia de que,
afinal de contas, a sua própria sobrevivência dependia.
Desde o princípio (1890-1891) explodiram querelas no Partido
Regenerador entre os três candidatos, que persistentemente se acusavam e
caluniavam para chegar à chefia absoluta, que, supunham eles, lhes garantia um
poder quase ilimitado sobre o país: João Franco, Hintze Ribeiro e Júlio de
Vilhena. Mas, depois da morte do rei, apareceram outros. João Franco chegou
mesmo a uma cisão definitiva, criando o Partido Regenerador-Liberal, a que a
"inteligência" portuguesa aderiu entusiasticamente. Um pouco mais
tarde, José Maria Alpoim também se resolveu separar do Partido Progressista e
fundou a "Dissidência Progressista", famosa pela sua radical falta de
escrúpulos.
D. Carlos, que percebia os perigos da situação, ainda tentou
reorganizar o sistema partidário, com a ajuda de Franco e dos
regeneradores-liberais. Infelizmente, era tarde para um exercício tão profundo
e duro. Ele foi mesmo morto no Terreiro do Paço e Franco exilado. O desprezo
que os portugueses tinham pela política, e muito particularmente pelos
partidos, fez com que não mexessem um dedo para pôr alguma ordem e seriedade na
política e, no "5 de Outubro", para defender o regime da insurreição
republicana. Basta dizer que no exílio (e tirando meia dúzia de obstinados),
nem o rei D. Manuel queria voltar a Portugal. Embora odiassem a República, a
classe média e grande parte da população não a tencionavam trocar por um
regresso à vida velha; e até se divertiam a observar a humildade dos seus
depenados senhores.
Vasco Pulido Valente - Público
domingo, 6 de outubro de 2013
Leituras e contas feitas
Cavaco Silva vai explicando, só têm de parar para o ouvir. O
País só terá crescimento económico com investimento estrangeiro e só haverá
investimento estrangeiro se houver estabilidade. O Bloco Central tem de se
entender sobre as grandes reformas que há para fazer. Se continuarem a pensar
apenas em si próprios e nas suas continhas, continuarão a ganhar eleições,
perdendo o País… Paulo Baldaia
Complicações do sobrenatural
Educar religiosamente as crianças dá um trabalhão. É muito
mais fácil não educar. É muito mais simples deixá-las em paz e sossego com as
coisas mundanas da vida. E esta dificuldade aplica-se a qualquer religião. Em
qualquer uma o enredo é difícil de explicar e de entender. As crianças, ao
contrário dos adultos, querem saber porquê. Exigem saber o significado de tudo,
a razão de ser de cada coisa e qual o objectivo de cada acção. Ora nós, pobres
crentes, não sabemos nem metade daquilo que eles querem saber. Já fizemos as
perguntas que queríamos e agora só queremos estar sossegadinhos na intimidade
da nossa fé. O que chega e sobra. As crianças não. Perguntam, com todo o
desplante, porque é que são baptizadas e o que é que acontecia se não fossem.
Também perguntam porque é que vão à missa, porque comungam, o que é a hóstia,
quem é o Espírito Santo, o significado da cruz, etc. Ninguém as cala. Por
exemplo, como é que se explica a uma criança a razão pela qual Santo António
falava aos peixes? Porquê os peixes, se os peixes não percebem nada? Ora
responder a isto tudo é quase impossível. O que nos resta, sendo óbvia a
ausência de base racional, é a teimosia. Educar um filho religiosamente é ser
teimoso... Inês Teotónio Pereira
Independentes e renovação na política
Não faço parte do coro dos que acham que todos os nossos
males estão na classe política, e ainda menos da claque de demagogos que anda
por aí a gritar que os que servem em funções públicas só estão lá para se
servirem, sobretudo se não forem da sua cor política. Pelo contrário. Acho até
extraordinário como tantos milhares de portugueses se dispuseram a
candidatar-se às autárquicas, mesmo sem a esperança de grandes, se algumas,
recompensas económicas. Por isso não posso deixar de assinalar que, apesar de
tudo, estas eleições também nos mostraram que os partidos continuam a ser os
grandes organizadores da vida política e que, se souberem ler os resultados, se
perceberem como muitas vezes foi a lógica dos militantes e do aparelho que os
perdeu, talvez possam encontrar novas formas de irem ao encontro da cidadania e
de revitalizarem a democracia. A possibilidade de a escolha dos seus futuros
candidatos passar a ser feita em primárias abertas aos eleitores é um caminho
que podiam explorar, até de forma descentralizada e experimental... José Manuel Fernandes
sábado, 5 de outubro de 2013
Chegar tarde mas a tempo
Os Bandex são uma família com talento e ideias, que, se o
perfil da conta no Facebook não me engana, começou a sua actividade em Março de
2011. Demorei dois anos e meio a conhecer o trabalho dos talentosos Gelpi.
Mesmo não circulando em meios online com mais "sensibilidade de
esquerda", indignados, contra a troika, etc., passo algum tempo da minha
vida no YouTube, o meio de eleição do grupo. Chego tarde, mas chego a tempo… Carla Hilário Quevedo
Sobre o que é o mal
Num dos seus primeiros textos sobre o fim da II Guerra
Mundial, escreveu Hannah Arendt em 1945: "O problema do mal será a questão
fundamental da vida intelectual do pós-guerra na Europa - tal como a morte se
tornou fundamental no fim da última guerra [1914-1918]." É um tema que
nunca abandonou. Por uma curiosa coincidência vai estar em Lisboa dentro de
dias o cineasta e escritor francês Claude Lanzmann, autor do genial Shoah
(1985), filme-reportagem que mudou o nosso modo de olhar a tragédia judaica. Lanzmann é o paladino actual dos críticos de Arendt. Le
Dernier des Injustes é em parte uma crítica a Eichmann em Jerusalém, sobre a
"banalidade do mal" e sobre o papel dos conselhos judaicos. Lanzmann
começou a sua obra sobre a Shoah, em 1975, o ano em que Arendt morreu... Jorge Almeida Fernandes
Costumeira dos dias seguintes
Agora os tapetes de relva vão degradar-se e aqueles arbustos
acabadinhos de plantar vão perder a sua graça. Agora as bicicletas pintadas no
alcatrão vão apagar-se. Agora os buracos vão voltar aos mesmos sítios onde
estiveram durante anos. Agora vamos ter uma pequena pausa nos boletins,
revistas, espectáculos e demais ‘performances' de múltiplos e avençados artistas
que nos garantem que o município é uma festa. Agora vai ser assim até que daqui
a três anos e meio a girândola comece a girar de novo e eles de novo comecem a
prometer o impossível, quando não o indesejável. Depois dos excessos
escandalosos e até obscenos das vésperas do acto eleitoral que atravessou o
País, nos próximos tempos a rotina voltará às autarquias... Helena Matos
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
"Assessores de Porra Nenhuma"
Os senhores deputados da nação parecem não ter emenda. Como
a vida custa a todos, estão genericamente transformados em marionetas dos
chefes dos partidos políticos. São incapazes de um mero esboço de independência
de raciocínio. Valem-se de um sistema político hermético, em circuito fechado,
para fazerem de conta que não percebem como o povo está cada vez mais farto do
esquema. O país merece melhor. Não vai lá pela sistemática mudança de tralha
nos gabinetes do pessoal político - de governantes a deputados, de vereadores a
ASPONE (Assessores de Porra Nenhuma!). Mais cedo do que tarde, impõe-se mudar
esta República... Fernando Santos
Poucos motivos para comemorar
Ora essa! Não gosto de fazer leituras nacionais de eleições locais.
Julgo ser uma mania centralista e lisboeta que retira dignidade a cada uma da
batalhas eleitorais do País. Mas se é para fazer uma leitura nacional de 300
eleições locais, então vamos lá fazer a coisa em condições... Henrique Raposo
Erosão democrática
O relevante das eleições autárquicas de domingo, não
foi o aumento da influência da CDU e o desaparecimento do Bloco do poder
local do País. O fundamental foi a erosão de votos sofrida pelos partidos do
arco da governação. E nem a existência de independentes conseguiu levar quase
metade dos portugueses à urna de voto. O PSD viu desaparecer o apoio de quase 500 mil
e o PS de 300 mil votantes. Para além da enorme e crescente abstenção que
ultrapassou os 47%, houve 350 mil votos brancos e nulos, correspondentes a 7%
de votantes, eleitores que foram às urnas para não votar em ninguém. Estes 7%
que se mobilizaram para dizer não aos partidos, juntos com quase 5 milhões que se
abstiveram, correspondem a uma larga maioria de 54% do eleitorado que não se
revê nos agentes políticos que se candidataram. Algo vai mal na democracia portuguesa.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Luta das avaliações continua
Nas autárquicas não se votou contra o assassinato do País. Terá
o bom povo, na sua sabedoria, reservado o protesto para as próximas
legislativas? Parece certo que os partidos que cederam a nossa soberania podem
continuar a monopolizar o poder. Nas urnas, nada os ameaça... Luís Raínha
Compromisso com a asneira
DOIS NEURÓNIOS NO CRÂNIO
O sr. Pedro Passos Coelho, excepto pelas guerras da JSD,
nunca fez nada que particularmente o distinguisse. E, fora um pobre curso de
Economia numa universidade privada, teve uma carreira escolar sobre o medíocre.
Não sei, por exemplo, se fala inglês com alguma fluência e correcção, mas dizem
por aí que não e que, nas conferências a que vai na Europa, acaba sempre por
fazer uma figura penosa. Esta ignorância - se por acaso existe - seria, em
princípio, só com ele. Mas passou a ser com todo o país, a partir do momento em
que o Governo tornou o Inglês no 1.º ciclo do básico uma disciplina facultativa
que cada escola fornecerá ou não a seu arbítrio às crianças que a frequentam:
apesar de 90 por cento dos pais (e, em certas zonas, 95 por cento) estarem em
desacordo com esta medida estúpida e ridícula.
O sr. Pedro Passos Coelho não percebeu, como qualquer pessoa
com dois neurónios no crânio perceberia, que as línguas da Europa não passam
hoje de idiomas locais, que ninguém usa e ninguém compreende. Mesmo o francês,
que era até ao século XIX a língua franca da diplomacia e de qualquer pessoa
medianamente educada, desapareceu de cena, expulsa pouco a pouco pelo Império
Britânico e, sobretudo depois da II Guerra Mundial, pelo poder da América. A
França ainda protestou com presunção e raiva essa "americanização" do
mundo, que lhe tirava a supremacia cultural de que tanto tempo gozara. Mas não
lhe serviu de nada. A própria juventude francesa ouvia música popular
americana, seguia a moda americana e adoptava os costumes que lhe chegavam da
América.
E, por outro lado, a chamada "globalização" da
economia exigia uma língua franca, que foi inevitavelmente o inglês. O Governo
do sr. Passos Coelho, que não pára de insistir na necessidade de aumentar o que
Portugal exporta, que sonha com a "internacionalização" dos produtos
portugueses e que vive da escassa confiança dos mercados financeiros da
Alemanha, de Hong Kong ou de Londres, decidiu de repente poupar uns tostões em
aulas de Inglês, enquanto mantinha a obrigatoriedade de disciplinas tão úteis
como a do "Estudo do Meio" e de "Expressões artísticas:
físico-motoras". O que o Governo e o dr. Passos Coelho precisavam era de
um curso intensivo para diminuir rapidamente a sua iliteracia e lhes dar uma
ideia aproximada do universo em que vivem.
Vasco Pulido Valente - Público
Foi a coroa, foram as jóias
Ontem, a Portugal Telecom deixou de existir tal como a
conhecíamos. Já aconteceu com outras grandes empresas nacionais. A PT como a
existia acabou. Ainda bem, se os donos nacionais não conseguiram fazer dela o
que está à vista. “A minha pátria é a minha língua”, escreveu Pessoa. Há
quem considere o Português a nova linguagem do poder e do comércio. É isso que
a fusão PT-Oi tem, pode ter, de generoso. É um negócio, falado em português. Mas
fomos enganados durante anos com negócios embrulhados na bandeira das quinas
que na prática foram traições à pátria. O importante é o que se faz com tamanha
riqueza. Enganaram o Camões... André Macedo
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Canudo, formação e qualificação
A negação é o estado natural deste Portugal contemporâneo. O
debate está entupido por mitos que se repetem de forma acrítica. Um dos grandes
mitos é aquele que proclama a minha geração como a "mais qualificada"
de sempre. Ora, gostava de salientar que uma geração com canudos não é
necessariamente uma geração qualificada. Podia convocar muitos pormenores para
ilustrar o ponto, mas por agora só preciso de um resultado eleitoral da noite
de domingo: o Concelho com mais licenciados, Oeiras, elegeu um presidiário,
Isaltino. Diz que é a "geração mais qualificada da história"... Henrique Raposo
Sócrates, a tese e os tesos
José Sócrates vai publicar um livro sobre a tortura, assunto
de que se ocupou na estância parisiense. Nada mais apropriado perante o que o
ex-primeiro-ministro andou a fazer aos portugueses durante seis anos no
governo. Uma tortura que se estende aos seus comentários semanais na RTP.
António José Seguro que o diga. Quanto ao beco sem saída onde nos enfiou, é uma
consequência lógica do país em festa de José Sócrates. Só se os portugueses
sofressem do célebre síndroma de Estocolmo é que alguém poderia votar de novo
em Sócrates, fosse para que cargo fosse... Paulo Pinto Mascarenhas
A surpresa do Porto
A grande surpresa das eleições autárquicas veio do Porto,
onde Rui Moreira se tornou Presidente da Câmara. Uma candidatura bem diferente
daqueles autarcas que foram elegidos em ruptura com as estruturas partidárias a
que pertenciam. Uma expressiva vitória de um verdadeiro independente, para dirigir
a segunda cidade do País. Uma eleição que terá repercussões em todo o
território nacional em próximas autárquicas. Se os partidos fizerem a leitura adequada
do que aconteceu no Porto, iniciarão um processo de mudança na sua organização internas
ou então as candidaturas independentes aumentarão em número imprevisível. A
tradicional partidocracia do sistema político nacional vai ser forçada a partilhar
domínios políticos com os movimentos de cidadãos. Foi uma agradável surpresa ver surgir os esperados sinais de intervenção política dados pela sociedade civil. Manuel Tavares
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Vassourada não foi desta
MUDAR LISBOA SEM DINHEIRO
A crise não permite que se façam em Lisboa grandes
melhoramentos. Mas limpar a cidade e a câmara do pior que têm não custa muito
dinheiro e até o poupa. Um presidente que limpe meia dúzia de aberrações com
que a incompetência ou o fanatismo alheio nos resolveu vexar, mereceria o voto
de toda a gente. Só que nisso os vários partidos que passaram pela Praça do
Município sempre ignoraram o óbvio. Por exemplo:
O topo do Parque Eduardo VII devia pura e simplesmente ser
demolido: as duas colunas com coroas de louro que não significam nada, nem
aludem a nada, o pénis de João Cutileiro (salvo seja), tão primitivo e
desinteressante como ele mesmo; e a Penitenciária, sem qualquer interesse
arquitectónico, que parece saída de uma Disneylândia do Cartaxo. Os símbolos de
Lisboa não podem ser estes ridículos trambolhos. Quanto ao parque, um exemplar
perfeito do gosto mussoliniano, os lisboetas com certeza agradeciam que fosse
unificado e transformado num jardim propriamente dito, para passear, correr,
jogar, beber um café ou simplesmente para levar as crianças (não há outro
sítio) e pensar na vida.
A Alameda D. Afonso Henriques, principalmente na parte de cima,
precisava de um tratamento parecido. Com um jardim do IST à Almirante Reis. Os
bairros secos daquela zona, sem uma árvore, sem uma sombra, sem sequer uma
esplanada longe do trânsito, mudariam radicalmente. Como mudaria a Praça do
Areeiro se alguém se atrevesse a remover de raiz o grotesco monumento a Sá
Carneiro, em que aparece uma cabeça dele, de vagas semelhanças com o original,
e um ar decapitado, que ninguém percebe.
Na Alameda da Universidade, lá estão ainda os relvados sem
uso, enquanto o parque do Campo Grande se degrada. Não custaria muito tornar
aquilo num jardim agradável, que ajudasse a dissolver a arquitectura
"monumental" de Pardal Monteiro, tanto mais ridículo quanto se sabe o
que sucede dentro daquelas majestosas paredes. Existem centenas de medidas como
estas, que dariam aos lisboetas o sentimento de viver numa cidade alegre e
confortável. São baratas (relativamente) e algumas talvez acabassem por ser
rentáveis. Mas na câmara ninguém pensa nisso, por conformismo ou porque a
vereação gosta mais do produto das suas cabecinhas, que, infelizmente, tende a
deprimir o inocente cidadão.
Vasco Pulido Valente - Público
Preocupação na Casa Branca
Obamacare paralisa os EUA. A emblemática lei das mudanças nos cuidados de saúde dos americanos continua sem entrar em funcionamento e a perturbar a governação dos Estados Unidos. Não faltarão protestos indignados e solidários pela velha Europa, tão protegida pelo Estado social. Mas convém não exagerar nas acusações contra uma nação imensa e rica que, por excessos considerados egoístas, pouco se preocupa com a protecção dos cidadãos carenciados. No essencial, a América identifica-se muito pouco com a sociedade europeia, habituada a delegar no Estado tudo o que pode e a fazer desse moribundo "monstro protector" o abrigo privilegiado. Só que, a sociedade que move a América, vive afastada do Estado, não conta com ele para desenvolver as iniciativas próprias, nem tolera que interfira nos planos da sua vida. Problema tão simples como isto.