DOIS NEURÓNIOS NO CRÂNIO
O sr. Pedro Passos Coelho, excepto pelas guerras da JSD,
nunca fez nada que particularmente o distinguisse. E, fora um pobre curso de
Economia numa universidade privada, teve uma carreira escolar sobre o medíocre.
Não sei, por exemplo, se fala inglês com alguma fluência e correcção, mas dizem
por aí que não e que, nas conferências a que vai na Europa, acaba sempre por
fazer uma figura penosa. Esta ignorância - se por acaso existe - seria, em
princípio, só com ele. Mas passou a ser com todo o país, a partir do momento em
que o Governo tornou o Inglês no 1.º ciclo do básico uma disciplina facultativa
que cada escola fornecerá ou não a seu arbítrio às crianças que a frequentam:
apesar de 90 por cento dos pais (e, em certas zonas, 95 por cento) estarem em
desacordo com esta medida estúpida e ridícula.
O sr. Pedro Passos Coelho não percebeu, como qualquer pessoa
com dois neurónios no crânio perceberia, que as línguas da Europa não passam
hoje de idiomas locais, que ninguém usa e ninguém compreende. Mesmo o francês,
que era até ao século XIX a língua franca da diplomacia e de qualquer pessoa
medianamente educada, desapareceu de cena, expulsa pouco a pouco pelo Império
Britânico e, sobretudo depois da II Guerra Mundial, pelo poder da América. A
França ainda protestou com presunção e raiva essa "americanização" do
mundo, que lhe tirava a supremacia cultural de que tanto tempo gozara. Mas não
lhe serviu de nada. A própria juventude francesa ouvia música popular
americana, seguia a moda americana e adoptava os costumes que lhe chegavam da
América.
E, por outro lado, a chamada "globalização" da
economia exigia uma língua franca, que foi inevitavelmente o inglês. O Governo
do sr. Passos Coelho, que não pára de insistir na necessidade de aumentar o que
Portugal exporta, que sonha com a "internacionalização" dos produtos
portugueses e que vive da escassa confiança dos mercados financeiros da
Alemanha, de Hong Kong ou de Londres, decidiu de repente poupar uns tostões em
aulas de Inglês, enquanto mantinha a obrigatoriedade de disciplinas tão úteis
como a do "Estudo do Meio" e de "Expressões artísticas:
físico-motoras". O que o Governo e o dr. Passos Coelho precisavam era de
um curso intensivo para diminuir rapidamente a sua iliteracia e lhes dar uma
ideia aproximada do universo em que vivem.
Vasco Pulido Valente - Público
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