quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Compromisso com a asneira



DOIS NEURÓNIOS NO CRÂNIO

O sr. Pedro Passos Coelho, excepto pelas guerras da JSD, nunca fez nada que particularmente o distinguisse. E, fora um pobre curso de Economia numa universidade privada, teve uma carreira escolar sobre o medíocre. Não sei, por exemplo, se fala inglês com alguma fluência e correcção, mas dizem por aí que não e que, nas conferências a que vai na Europa, acaba sempre por fazer uma figura penosa. Esta ignorância - se por acaso existe - seria, em princípio, só com ele. Mas passou a ser com todo o país, a partir do momento em que o Governo tornou o Inglês no 1.º ciclo do básico uma disciplina facultativa que cada escola fornecerá ou não a seu arbítrio às crianças que a frequentam: apesar de 90 por cento dos pais (e, em certas zonas, 95 por cento) estarem em desacordo com esta medida estúpida e ridícula.
O sr. Pedro Passos Coelho não percebeu, como qualquer pessoa com dois neurónios no crânio perceberia, que as línguas da Europa não passam hoje de idiomas locais, que ninguém usa e ninguém compreende. Mesmo o francês, que era até ao século XIX a língua franca da diplomacia e de qualquer pessoa medianamente educada, desapareceu de cena, expulsa pouco a pouco pelo Império Britânico e, sobretudo depois da II Guerra Mundial, pelo poder da América. A França ainda protestou com presunção e raiva essa "americanização" do mundo, que lhe tirava a supremacia cultural de que tanto tempo gozara. Mas não lhe serviu de nada. A própria juventude francesa ouvia música popular americana, seguia a moda americana e adoptava os costumes que lhe chegavam da América. 
E, por outro lado, a chamada "globalização" da economia exigia uma língua franca, que foi inevitavelmente o inglês. O Governo do sr. Passos Coelho, que não pára de insistir na necessidade de aumentar o que Portugal exporta, que sonha com a "internacionalização" dos produtos portugueses e que vive da escassa confiança dos mercados financeiros da Alemanha, de Hong Kong ou de Londres, decidiu de repente poupar uns tostões em aulas de Inglês, enquanto mantinha a obrigatoriedade de disciplinas tão úteis como a do "Estudo do Meio" e de "Expressões artísticas: físico-motoras". O que o Governo e o dr. Passos Coelho precisavam era de um curso intensivo para diminuir rapidamente a sua iliteracia e lhes dar uma ideia aproximada do universo em que vivem.

Vasco Pulido Valente - Público

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