O “5 DE OUTUBRO”
Este é o primeiro ou segundo ano em que não se comemora o
"5 de Outubro". Mas nunca a "estranha" queda da Monarquia
foi tão importante para compreender a política portuguesa. A origem dessa queda
começou na degradação dos partidos do regime (o Partido Regenerador e o Partido
Progressista), que pouco a pouco se dividiram em quadrilhas (cada uma com seu
chefe ou "marechal") e se combateram ferozmente com a prestante ajuda
dos revolucionários republicanos. A história começou com o vexame diplomático
do "Ultimato Inglês", continuou com sucessivas crises financeiras de
1890 a 1902, para acabar no assassinato de D. Carlos em 1908 e no caos que ele
necessariamente provocou. Durante vinte anos, nem os regeneradores, nem os
progressistas se conseguiram entender para fortalecer a Monarquia de que,
afinal de contas, a sua própria sobrevivência dependia.
Desde o princípio (1890-1891) explodiram querelas no Partido
Regenerador entre os três candidatos, que persistentemente se acusavam e
caluniavam para chegar à chefia absoluta, que, supunham eles, lhes garantia um
poder quase ilimitado sobre o país: João Franco, Hintze Ribeiro e Júlio de
Vilhena. Mas, depois da morte do rei, apareceram outros. João Franco chegou
mesmo a uma cisão definitiva, criando o Partido Regenerador-Liberal, a que a
"inteligência" portuguesa aderiu entusiasticamente. Um pouco mais
tarde, José Maria Alpoim também se resolveu separar do Partido Progressista e
fundou a "Dissidência Progressista", famosa pela sua radical falta de
escrúpulos.
D. Carlos, que percebia os perigos da situação, ainda tentou
reorganizar o sistema partidário, com a ajuda de Franco e dos
regeneradores-liberais. Infelizmente, era tarde para um exercício tão profundo
e duro. Ele foi mesmo morto no Terreiro do Paço e Franco exilado. O desprezo
que os portugueses tinham pela política, e muito particularmente pelos
partidos, fez com que não mexessem um dedo para pôr alguma ordem e seriedade na
política e, no "5 de Outubro", para defender o regime da insurreição
republicana. Basta dizer que no exílio (e tirando meia dúzia de obstinados),
nem o rei D. Manuel queria voltar a Portugal. Embora odiassem a República, a
classe média e grande parte da população não a tencionavam trocar por um
regresso à vida velha; e até se divertiam a observar a humildade dos seus
depenados senhores.
Vasco Pulido Valente - Público
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