terça-feira, 1 de outubro de 2013

Vassourada não foi desta



MUDAR LISBOA SEM DINHEIRO

A crise não permite que se façam em Lisboa grandes melhoramentos. Mas limpar a cidade e a câmara do pior que têm não custa muito dinheiro e até o poupa. Um presidente que limpe meia dúzia de aberrações com que a incompetência ou o fanatismo alheio nos resolveu vexar, mereceria o voto de toda a gente. Só que nisso os vários partidos que passaram pela Praça do Município sempre ignoraram o óbvio. Por exemplo:
O topo do Parque Eduardo VII devia pura e simplesmente ser demolido: as duas colunas com coroas de louro que não significam nada, nem aludem a nada, o pénis de João Cutileiro (salvo seja), tão primitivo e desinteressante como ele mesmo; e a Penitenciária, sem qualquer interesse arquitectónico, que parece saída de uma Disneylândia do Cartaxo. Os símbolos de Lisboa não podem ser estes ridículos trambolhos. Quanto ao parque, um exemplar perfeito do gosto mussoliniano, os lisboetas com certeza agradeciam que fosse unificado e transformado num jardim propriamente dito, para passear, correr, jogar, beber um café ou simplesmente para levar as crianças (não há outro sítio) e pensar na vida.
A Alameda D. Afonso Henriques, principalmente na parte de cima, precisava de um tratamento parecido. Com um jardim do IST à Almirante Reis. Os bairros secos daquela zona, sem uma árvore, sem uma sombra, sem sequer uma esplanada longe do trânsito, mudariam radicalmente. Como mudaria a Praça do Areeiro se alguém se atrevesse a remover de raiz o grotesco monumento a Sá Carneiro, em que aparece uma cabeça dele, de vagas semelhanças com o original, e um ar decapitado, que ninguém percebe.
Na Alameda da Universidade, lá estão ainda os relvados sem uso, enquanto o parque do Campo Grande se degrada. Não custaria muito tornar aquilo num jardim agradável, que ajudasse a dissolver a arquitectura "monumental" de Pardal Monteiro, tanto mais ridículo quanto se sabe o que sucede dentro daquelas majestosas paredes. Existem centenas de medidas como estas, que dariam aos lisboetas o sentimento de viver numa cidade alegre e confortável. São baratas (relativamente) e algumas talvez acabassem por ser rentáveis. Mas na câmara ninguém pensa nisso, por conformismo ou porque a vereação gosta mais do produto das suas cabecinhas, que, infelizmente, tende a deprimir o inocente cidadão.

Vasco Pulido Valente - Público

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