quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Corrupção e Decadência da Catalunha



Há alguns dias atrás foi publicado mais um relatório anual do organismo que acompanha a corrupção mundial, avaliando o crescimento e/ou diminuição do fenómeno, nos diferentes países da comunidade internacional. Nenhuma alteração significativa se registou, com os países da Europa do sul como Portugal e Espanha mais uma vez colocados lado a lado nos últimos lugares do conjunto da comunidade europeia. 
Como invariavelmente acontece nos momentos de maior aperto das finanças públicas dos Estados mais débeis, ressurge o desgastado imperativo de combater a corrupção com propostas novas que nunca  são para ir além das intenções. Acabar com a corrupção parece ser coisa que a ninguém interessa, já que ninguém se consciencializa da necessidade de eliminar a praga e ninguém acredita ser possível a erradicação da moléstia. Enquanto isso, todos vamos andando, a fazer pela vida e a fazer de conta, por aí, como potenciais criminosos, misturados com os aspirantes e os diplomados trafulhas, porque mais ninguém frequenta o sítio.
Na Catalunha, desde as eleições locais do passado mês não param os desenvolvimentos sobre casos de corrupção envolvendo políticos catalães. É por isso oportuno reflectir sobre a facilidade e a frequência com que se multiplicam actos corruptos e ainda sobre a passividade e a complacência dos cidadãos eleitores, sejam catalães ou de qualquer outra zona da península ibérica, sempre que  estas situações são conhecidas. 
Como as mudanças têm significado apenas retrocessos, bem distante vai o tempo duma Catalunha cosmopolita e moderna, liderada por uma burguesia dinâmica e culta, acolhedora de tantos espanhóis das zonas mais pobres, modelo invejado por qualquer região da Espanha mais pobre. Produto do que de pior vai tendo a política, a actual realidade catalã não se recomenda.
Quando no início dos anos 80 tomava posse Jordi Pujol para um longo trajecto de mais de 20 anos à frente do governo autonómico catalão, começava uma paulatina caminhada nacionalista de enfrentamento com o Estado central espanhol e de propagação do sentimento independentista. Tivesse sido este o único propósito que manteve no poder esta figura do catalanismo nas sucessivas eleições e apenas se discutiriam os procedimentos desenvolvidos ou a legitimidade duma Catalunha independente. 
Até agora, primeiro com Pujol e a seguir com o seu delfim Artur Mas, os governos da Catalunha chantagearam o governo central quanto puderam, desobedeceram às decisões dos tribunais centrais para contornar leis, enquanto a economia catalã afrouxava e o poder autonómico esbanjava recursos. Desde o ano passado, o monstrozinho da Generalitat apenas se sustenta com o dinheiro de Madrid e não corta um chavo em tudo o que seja gasto com a treta independentista. 
O mais preocupante é a corrupção instalada onde haja que chafurdar. Em plena campanha eleitoral do passado Novembro, enquanto os independentistas agitavam a bandeira da opressão sem discutirem o que fosse sobre a iminente bancarrota da autonomia a que presidiam, alguns jornais espanhóis publicavam dados relevantes sobre corrupção e fuga de capitais para a Suíça, tanto do clã Pujol como da família Mas. Nas eleições que se seguiram o eleitorado vota em força e apenas retira a hipótese de maioria à CIU, votando noutros partidos independentistas que em aliança governarão e repartirão influência. Daí para cá, continuam as revelações comprometendo Pujol com os filhos atrelados pelas benesses, bem como outros dirigentes partidários actualmente no poder. Toda esta gente com ligações a casos de corrupção, em conluio com políticos doutras regiões e que transitam pelos tribunais do território espanhol, da Galiza à Andaluzia.
E nisto se transformou a Catalunha destes tempos: numa região decadente, onde apenas os dissimulados prosperam com manhosa vitimização; num depauperado território onde os iludidos se limitam a agitar bandeiras de libertação; num dos piores exemplos de legitimação do poder autónomo ou independente ao serviço de demagogos populistas.
Pela Catalunha ou por qualquer canto de Espanha, por Portugal ou por qualquer das nossas ilhas, que sentido fará dar a oportunidade ao povo de se pronunciar sobre questões desta importância? Que se pode esperar de quem tanto se indigna com corruptos e em sequer é capaz de lhe negar o seu voto? Não passamos duma cambada de "chorizos", como se diz pelo reino vizinho.  

   

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