quarta-feira, 15 de maio de 2013

Para lavar e durar



SILVA LOPES – Economista e antigo ministro das Finanças defende as taxas que o governo pretende aplicar sobre as pensões e admite que os mais velhos estão a prejudicar a geração mais nova: “A geração grisalha não pode estar a asfixiar a geração nova da maneira como tem feito até aqui. Não pode ser. Eu sou pensionista, sou da geração grisalha, quem me dera a mim que não toquem nas reformas, mas tocam, vão tocar e eu acho muito bem. Não há outro remédio. Sou a favor desta taxa como fui a favor da contribuição de solidariedade social. Mas, se calhar, também vai ser declarada inconstitucional. A Constituição e a interpretação que o Tribunal Constitucional faz da lei podem contribuir para o agravamento da crise em Portugal. E digo uma coisa: se nós temos a Constituição e a interpretação do Tribunal Constitucional a impedir estas coisas, isto rebenta tudo.”

JORGE MIRANDA – Constitucionalista considerado “pai” da Constituição tem manifestado discordâncias e dúvidas de constitucionalidade sobre as alterações previstas para os regimes de pensões: “Eu acho que a retroactividade no corte das pensões é, manifestamente, inconstitucional. É uma violação de um princípio básico do Estado de Direito, que é o princípio da protecção da confiança, que tem sido muitas vezes afirmado e reafirmado pela doutrina, pela jurisprudência, do Tribunal Constitucional. Há também uma violação do direito de propriedade, porque as pessoas contribuíram para essas pensões com o seu dinheiro. A violação seria menos flagrante caso a mesma medida fosse aplicada às pensões não-contributivas. Nas pensões contributivas dos funcionários públicos não se pode admitir que se venha retirar aquilo que as pessoas deram. Nas pensões de titulares de cargos políticos, não contributivas, que continua a haver e são escandalosas, aí é que eu gostaria de ver manifestações de solidariedade com as pessoas a renunciarem a essas pensões, mas ainda há, nesta fase, antigos deputados a reclamar por essas pensões.”

PRÓS E CONTRAS NA RTP1 – Curioso foi assistir ao último programa deste suposto serviço público de televisão onde, a coberto da discussão do assunto se patrocinou a defesa de movimentos de aposentados como o “APRE” – reformados e pensionistas, que ocupavam toda a plateia. Jorge Miranda e o Provedor de Justiça também estavam presentes para a discussão do tema. Depois do arengar dos ilustres convidados, achando que “a sociedade vive actualmente uma erosão de valores éticos e de solidariedade intergeracional”, seguiu-se uma passagem pela primeira fila da plateia para os “desabafos sentidos” dos que se dizem “vitimas do despudorado ataque desta gente sem alma que não lhes dá um minuto de sossego”. A seguir, o “constitucionalíssimo” professor de Direito arrancou excitados aplausos da “assistência de t-shirt preta” com as sentenças proferidas. Mas quando exortou que todos fizessem como ele, que prolongassem o período de trabalho para lá da idade da reforma, porque fazia bem a tanta coisa… mãos no bolso, tudo quieto, apenas burburinho (sic). Quanto à famigerada (in)sustentabilidade da Segurança Social, só em relação à CGA, os descontos feitos pelos funcionários públicos em 2012, apenas cobriram 40% das despesas com pensões. Estamos entendidos.

 "Jorge Miranda acha que o meu dinheiro é dele" Henrique Raposo

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