SE NÃO HÁ CONDIÇÕES PARA CONTINUAR É MELHOR RENUNCIAR
Portugal tem um Governo em funções ainda a meio da legislatura,
a quem os portugueses confiaram a governação do país, num momento difícil e decisivo, com condições excepcionais impostas, demasiado exigentes para cada português. Em menos de dois anos, após a bancarrota e o
resgate nacional, com mais ou menos competência, melhor ou pior do que se esperava, todos os membros do governo fizeram o possível e o impossível pela
recuperação do país, até esta fase tão crucial. Percorrido o trajecto inicial,
não é difícil reconhecer tudo o que tem dificultado ou impossibilitado a acção do
Governo, obstáculos demais para impedir uma inversão do rumo depressivo. Hoje, o sentimento da maioria dos
portugueses é de muito desânimo e grande impotência, perante uma realidade tão
dura e persistente.
Aqui chegados, especialistas mais ou menos comprometidos, opiniões
da generalidade dos quadrantes políticos, muitos sujeitos dos que engrossam tanta
unanimidade, todos apontam numa mesma direcção: temos um Governo maioritário
que se encontra paralisado e sem espaço, que vem perdendo a iniciativa e a
credibilidade, a quem será impossível corrigir percursos falhados, retomar
tarefas suspensas, imprimir dinâmicas renovadas. Se é um país saturado e descrente
que assim percebe o seu Governo, tão esgotado e sem vigor, num beco sem saída,
dificilmente acreditará em quem governa.
Dos partidos políticos que subscreveram o memorando de
entendimento detalhando as condições do resgate impostas pela troika, o Partido
Socialista jamais equacionou a possibilidade de viabilizar um pacto de regime
capaz de sustentar as verdadeiras reformas do Estado. Apenas se empenha, desde que está na oposição, na confrontação política, à espreita da possibilidade de voltar ao poder. E foi com essa leviandade que avançou agora com uma moção de
censura, apenas reflexo de oportunismo político sem quaisquer consequências
práticas. Para os socialistas e restante oposição, o único discurso vigente é a
defesa do investimento público para fomentar crescimento económico, mais a recusa da
austeridade que não consideram consequência do passado mas opção do presente. Os habituais disparates dos incorrigíveis que mais contribuíram para o atoleiro em que Portugal caiu.
Do Presidente da República não vale a pena esperar muito
mais. Compete-lhe como supremo magistrado da nação, cumprir e fazer cumprir a Constituição.
Isso não significa que alguma vez esteja disponível para medidas que considere extremas.
Mesmo que o Tribunal Constitucional se pronuncie pela inconstitucionalidade das
normas orçamentais e caso o executivo PSD/CDS se recuse a apresentar um plano de alternativas,
é pouco provável, em qualquer circunstância, que o Chefe do Estado actue
demitindo o Governo em funções. Nesta fase da sua magistratura, Cavaco Silva é
já considerado politicamente moribundo, muito empenhado em não se comprometer com
qualquer medida fundamental de ruptura, cada vez mais preocupado em preservar
o que lhe reste de prestígio, apenas para terminar a carreira política com
alguma dignidade, bem longe da criatura etérea que aspirava ser.
O actual momento político poderá ser de viragem, se surgirem
condições que permitam ao Governo recomeçar a caminhada com outra vitalidade. Algo pouco expectável. Mas poderá ser de ruptura, quando for conhecida a decisão do Tribunal Constitucional, se o
Governo for forçado a reconhecer o que parece óbvio: pelas inconstitucionalidades no orçamento de 2013 desapareceram as condições mínimas de governabilidade. Note-se que a maioria dos
constitucionalistas tem antecipado, não ser apenas a “contribuição
extraordinária de solidariedade sobre as pensões”, aquilo que os juízes considerarão
inconstitucional (e a única verba que seria viável recuperar sem medidas suplementares de austeridade). Sendo dados como certos os chumbos de outras normas fiscalizadas, quando toda a gente reclama que deixe de se falar de austeridade porque é capricho apenas de quem governa, ao Governo, aqueles a quem todos os fracassos se atribuem, só restará uma saída: renunciar.
Se tantas vozes autorizadas chegaram à derradeira conclusão que o Governo nada mais pode fazer, se não há remodelação que possa pôr o executivo a funcionar, se aqueles que estão destinados para salvar o país são os que de fora só exigem que se demitam ministro a ministro... e se o Governo de Portugal ainda é constituído por pessoas responsáveis que primeiro pensam no país, só resta ao primeiro-ministro apresentar a demissão, sem mais perda de tempo. Para grandes males, grandes remédios.
Se tantas vozes autorizadas chegaram à derradeira conclusão que o Governo nada mais pode fazer, se não há remodelação que possa pôr o executivo a funcionar, se aqueles que estão destinados para salvar o país são os que de fora só exigem que se demitam ministro a ministro... e se o Governo de Portugal ainda é constituído por pessoas responsáveis que primeiro pensam no país, só resta ao primeiro-ministro apresentar a demissão, sem mais perda de tempo. Para grandes males, grandes remédios.
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