DEIXEM O ISLÃO TRATAR DE SI
Na Síria, 1300 pessoas foram assassinadas com gás,
provavelmente com gás sarin. A televisão e os jornais do Ocidente reagiram com
indignação e ultraje. Os governos, manifestando a sua "preocupação",
anunciaram que, por enquanto, esperariam pelos resultados de um inquérito da
ONU ainda no princípio. O inquérito tem dois fins. Primeiro, averiguar se de
facto se usaram armas químicas contra as vítimas (sarin ou outro gás qualquer).
Segundo, descobrir os responsáveis pelo massacre: o Governo de Bashar Al-Assad
ou o exército rebelde. Em princípio, isto pode parecer monstruoso. Mas sucede
que, em Março, um ataque de sarin já matara indiscriminadamente 27 indivíduos,
não se sabe - e nunca se conseguiu apurar - se opositores, se apoiantes de
Assad. E que o próprio Obama admitiu que "as provas não eram
suficientes".
Esta ignorância justifica agora que a América e a Europa
tomem uma atitude "cautelosa", tanto mais que o horror dos
jornalistas não se comunicou ao público. O que é, de resto, muito
compreensível. Ninguém quer uma nova intervenção militar, seja ela
"cirúrgica", como hoje se diz, ou francamente "em força".
Os fracassos do Iraque, do Afeganistão e da Líbia não encorajam uma política
árabe de aventura. Obama pensa, muito pelo contrário, em recolher as tropas que
continuam na Ásia; e à Europa, coitada, falta a capacidade e o dinheiro para
mais do que ajudar a insurreição contra Khadafi. As palavras
"moderadas" da diplomacia ocidental não exprimem mais do que uma impotência
cada vez mais notória. Um George Bush chegou. O polícia da nossa tão badalada
civilização acabou.
A França e a Inglaterra perderam pouco a pouco a arrogância
e os tiques de grandes potências, que nem a II Guerra lhes conseguiu tirar e
que só a triste figura de François Hollande tentou ultimamente ressuscitar (na
Líbia e no Mali). Mas, no caso da América, as coisas são mais complicadas,
porque a primazia económica e militar da América, apesar de tudo, permanece e,
em parte, aumenta. Esta circunstância leva a direita do Partido Republicano a
exigir a guerra contra Assad, o apoio aos militares do Egipto (contra a
Irmandade Muçulmana) e a "regularização" da Líbia. Não bastou a essa
gente os milhares de mortos do Iraque e do Afeganistão, os milhões de refugiados
do Iraque e da Síria, os desastres sem nome que provocaram. Pedem mais.
Esperemos que Obama resista às vozes da loucura, que se voltaram a ouvir.
Vasco Pulido Valente - Público
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