segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Democracia não é para todos



DEIXEM O ISLÃO TRATAR DE SI

Na Síria, 1300 pessoas foram assassinadas com gás, provavelmente com gás sarin. A televisão e os jornais do Ocidente reagiram com indignação e ultraje. Os governos, manifestando a sua "preocupação", anunciaram que, por enquanto, esperariam pelos resultados de um inquérito da ONU ainda no princípio. O inquérito tem dois fins. Primeiro, averiguar se de facto se usaram armas químicas contra as vítimas (sarin ou outro gás qualquer). Segundo, descobrir os responsáveis pelo massacre: o Governo de Bashar Al-Assad ou o exército rebelde. Em princípio, isto pode parecer monstruoso. Mas sucede que, em Março, um ataque de sarin já matara indiscriminadamente 27 indivíduos, não se sabe - e nunca se conseguiu apurar - se opositores, se apoiantes de Assad. E que o próprio Obama admitiu que "as provas não eram suficientes".
Esta ignorância justifica agora que a América e a Europa tomem uma atitude "cautelosa", tanto mais que o horror dos jornalistas não se comunicou ao público. O que é, de resto, muito compreensível. Ninguém quer uma nova intervenção militar, seja ela "cirúrgica", como hoje se diz, ou francamente "em força". Os fracassos do Iraque, do Afeganistão e da Líbia não encorajam uma política árabe de aventura. Obama pensa, muito pelo contrário, em recolher as tropas que continuam na Ásia; e à Europa, coitada, falta a capacidade e o dinheiro para mais do que ajudar a insurreição contra Khadafi. As palavras "moderadas" da diplomacia ocidental não exprimem mais do que uma impotência cada vez mais notória. Um George Bush chegou. O polícia da nossa tão badalada civilização acabou. 
A França e a Inglaterra perderam pouco a pouco a arrogância e os tiques de grandes potências, que nem a II Guerra lhes conseguiu tirar e que só a triste figura de François Hollande tentou ultimamente ressuscitar (na Líbia e no Mali). Mas, no caso da América, as coisas são mais complicadas, porque a primazia económica e militar da América, apesar de tudo, permanece e, em parte, aumenta. Esta circunstância leva a direita do Partido Republicano a exigir a guerra contra Assad, o apoio aos militares do Egipto (contra a Irmandade Muçulmana) e a "regularização" da Líbia. Não bastou a essa gente os milhares de mortos do Iraque e do Afeganistão, os milhões de refugiados do Iraque e da Síria, os desastres sem nome que provocaram. Pedem mais. Esperemos que Obama resista às vozes da loucura, que se voltaram a ouvir.

Vasco Pulido Valente - Público

Sem comentários: