sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A bizarria das petições




Nos últimos tempos, ganhou força a costumeira de lançar uma Petição Pública por qualquer coisa que se afigure relevante nas cabecinhas mais ingénuas da nossa praça. São variadas as causas que originam movimentações deste tipo: de reivindicações das mais legítimas e razoáveis, a solicitações caprichosas das mais insólitas e absurdas. Aparecem petições para quase tudo, dirigidas ao gosto e à militância de qualquer subscritor compulsivo.

Considerada uma espécie de democracia à lista, a "petição" não parece muito distante do tradicional "meter a cunha" dos velhos hábitos da parvónia. O que antes era o pedido duma criatura necessitada feito a uma eminência influente, agora é tudo ao molho a exigir qualquer disparate. Se antes o suborno era prática fortuita e módica, agora a corrupção via voto é destino quase certo. Com um sistema político destes, aperfeiçoado e adaptado às massas, quem sabe se não poderíamos banir o Estado duma vez e refundar a "coisa pública" de forma original. Talvez com a simples nomeação vitalícia de um  "Capataz-Solicitador", cuja missão seria aceitar e aplicar as encomendas legislativas do povo requerente. Seria um regresso ao Portugal imaginado por algumas luminárias em momentos de supremo delírio. O País da genuína "democracia directa" acomodada aos tempos modernos. 

Esta coisa da "Democracia da Petição", reproduziu-se pelo mundo dos simplórios apoiando-se no uso massivo da internet. Por cá, foi criado o sítio da Petição Pública online, idêntico ao portal desenvolvido para o mesmo fim pela administração americana. À escala imensa dos USA ou do burgo nacional, são as extravagâncias o que mais entusiasma os nativos. Mesmo que a natureza das petições não varie muito, quer se trate de propósitos sérios ou de situações caricatas. Quem sabe, se por razões de ordem cívica, pelo menos os americanos ainda se empenham na luta por proibições como a dos tacos de basebol. Enquanto isso, a indigência nacional sai em defesa dos cães perigosos que partilham residência com os animais dos donos.

... com honrosas excepções:


Jornal de Notícias

(...) Haja esperança: mais de 32 mil pessoas tinham assinado nos últimos dias uma petição contra o abate do pitbull "Zico", que matou (repito: matou) uma criança de 18 meses em Beja. E porquê, perguntarão? Porque os animais, como as pessoas, "também merecem uma segunda oportunidade!". Como deseja docemente uma das signatárias dirigindo-se ao pitbull assassino, "que encontres uma família que te ame muito". Outra, com enorme bom senso, afirma: "se o cão há 8 anos nunca fez mal, não é motivo nenhum para ser abatido só porque atacou uma criança". Outro, lapidar, acrescenta: "quem defende este tipo de solução de abate é que deveria ser encostado a um poste e ser-lhe feito o mesmo". Outro, finalmente, conclui: "Tenham vergonha!" Eu ter vergonha, tenho. Creio é que não será pelas mesmas razões.

Mas ainda decorre a cruzada pelo cãozinho

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