TEMOS ESPERANÇA NO NOVO PATRIARCA?
No último domingo, realizou-se a primeira missa de D. Manuel Clemente, actual patriarca, no Mosteiro dos Jerónimos. Havia a esperança de ser um novo impulso para a Igreja portuguesa, muito mais aberta do que a espanhola e mais próxima do pensamento do novo Papa Francisco.
Mas não foi. A missa, instrumentalizada pelo Governo
moribundo que temos, tornou-se uma vergonha inaceitável. A presença do
Presidente da República, nada discreta, de Passos Coelho e de Paulo Portas e
mais a claque dos capangas que lá puseram para bater palmas aos políticos
presentes resultou num escândalo. Nenhum católico verdadeiro pode aceitar uma
tal humilhação a que sujeitaram o patriarca, que, julgo, não a merecia. Mas a
verdade é que não reagiu e pelo contrário parecia satisfeito, como se viu na
televisão.
Se a Igreja não deve intrometer-se na política, a verdade é
que os políticos também não devem aproveitar-se da Igreja para fazerem
propaganda. Teremos voltado ao tempo triste do fascismo?
Foi o que aconteceu, sem que o senhor patriarca tivesse
reagido minimamente. Começou muito mal com a sua primeira missa. Direi mesmo
que foi uma vergonha que infelizmente o vai marcar negativamente perante os
católicos sinceros e progressistas, sem falar dos leigos, como eu, que se
lembram bem dos tempos em que o fascismo utilizava a religião...
Não sei agora como é que o senhor patriarca vai falar dos
desempregados e dos pobres, quando deixou que os responsáveis por essa desgraça
nacional fossem aplaudidos nessa primeira missa, obviamente organizada pelos
políticos, como está à vista, quando são vaiados sempre que se atrevem a
aparecer na rua.
É óbvio que uma Igreja como o Mosteiro dos Jerónimos é um
local sagrado. Não se compreende assim que o novo patriarca, que é uma pessoa
culta e experiente, deixasse que os políticos presentes fossem aplaudidos sem
que ele, patriarca, lhes lembrasse que a Igreja onde estavam é um lugar
sagrado, não é um lugar próprio para esse tipo de manifestações políticas.
Começou mal, muito mal, as suas novas funções, como o povo católico mais
humilde vai compreender.
MÁRIO SOARES
Bastou Passos Coelho ouvir alguns aplausos em vez dos apupos habituais para Mário Soares saltar para a rua enfurecido com o Cardeal Patriarca e a berrar que Portugal pode estar de regresso ao fascismo. E ninguém interna o velho no hospício.
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