DESCULPE, PRESIDENTE EVO MORALES
Esperei uma semana que o Governo do meu país lhe pedisse
formalmente desculpas pelo ato de pirataria aérea e de terrorismo de Estado que
cometeu, juntamente com a Espanha, a França e a Itália, ao não autorizar a
escala técnica do seu avião no regresso à Bolívia depois de uma reunião em
Moscovo, ofendendo a dignidade e a soberania do seu país e pondo em risco a sua
própria vida. Não esperava que o fizesse, pois conheço e sofro o colapso diário
da legalidade nacional e internacional em curso no meu país e nos países
vizinhos, a mediocridade moral e política das elites que nos governam, e o
refúgio precário da dignidade e da esperança nas consciências, nas ruas e nas
praças, depois de há muito terem sido expulsas das instituições. Não pediu
desculpa. Peço eu, cidadão comum, envergonhado por pertencer a um país e a um
continente que são capazes de cometer esta afronta e de o fazer de modo impune,
já que nenhuma instância internacional se atreve a enfrentar os autores e os
mandantes deste crime internacional. O meu pedido de desculpas não tem qualquer
valor diplomático mas tem um valor talvez ainda superior, na medida em que,
longe de ser um acto individual, é a expressão de um sentimento coletivo, muito
mais vasto do que pode imaginar, por parte de cidadãos indignados que todos os
dias juntam mais razões para não se sentirem representados pelos seus
representantes…
Boaventura de Sousa Santos - Público
Caro cidadão comum
Em nome do nosso país e também envergonhado, nem sabe como lhe agradeço. Nem consigo sair à rua, quanto mais do país.
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