TEMOS PRESIDENTE
É interessante constatarmos a surpresa e a perplexidade que
o discurso de quarta-feira de Cavaco Silva está a provocar. De facto, o
Presidente abandonou a chamada leitura minimalista dos poderes que a
Constituição lhe confere e "descolou" da maioria que nos governa e
que tão triste "espectáculo" proporcionou na passada semana.
Depois de uma exaustiva e clara justificação para a recusa
de eleições nesta conjuntura de curto prazo, o Presidente apontou os caminhos
que preconiza para a solução que entende consentânea com a defesa dos
interesses nacionais na situação crítica que Portugal atravessa. E é aqui que
as propostas de Cavaco Silva não são ainda suficientemente esclarecedoras. Só
após os contactos que entendeu desenvolver desde já com os partidos
subscritores do memorando de entendimento com a troika poderemos ter uma melhor
compreensão sobre os desígnios presidenciais.
Será que o Presidente recusou, como parece, a remodelação do
Governo que Passos Coelho anunciou e pretende que o executivo permaneça como
está? Se recusou, estamos perante um agravo (merecido) aos partidos e aos
líderes da coligação! Por alguma razão ainda não comentaram a proposta do
Presidente...
Confirma-se que a intenção do Presidente, no caso de
fracasso das negociações que propõe, é a de avançar com um Governo de sua
responsabilidade? Um Governo que integre personalidades independentes de
reconhecida competência e capacidade política, até ao termo do período de
intervenção externa? Espero bem que seja essa a intenção!
Em suma, os propósitos do Presidente parecem-me de aplaudir,
sem embargo de carecerem de clarificação. Temos Presidente!
É tempo de os partidos perceberem e assumirem que o
interesse nacional exige a todos uma postura de Estado e que só uma
convergência alargada entre eles permitirá afrontar com sucesso as dificuldades
e assim ultrapassar a gravíssima crise que atravessamos.
Se não perceberem isto, os partidos serão, a justo título,
brutalmente penalizados pelos eleitores.
António Capucho - Público
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