sexta-feira, 21 de junho de 2013

Futebolês em anedota lamecha


OS MENINOS DE OURO

O chamado defeso é a parte da época futebolística que eu mais temo e desprezo. Temo, porque, invariavelmente, me traz sempre noticia da venda de algum ou alguns dos melhores jogadores do meu clube (enquanto os outros ninguém cobiça e é sempre uma dor de cabeça vermo-nos livres deles). E desprezo esta parte da época porque, entre tantos negócios de compra e de venda que se cruzam, vem sempre ao de cima o particular brio profissional e amor à camisola de tantos daqueles que passamos o ano a aplaudir como ídolos nossos. Afinal, este é um mundo desprovido de valores como lealdade, dedicação, respeito pelo clube. Há excepções, notáveis, mas a regra é esta. Por mais que a história se repita, em todos os clubes e em todos os defesos, não há maneira de os adeptos meterem na cabeça que os únicos para quem esses valores têm significado são eles próprios.
Fixemo-nos no exemplo nos chamados clubes grandes - que são os que têm mais adeptos, fazem mais negócios de arromba e onde a feira de vaidades e ambições encontra melhores oportunidades para se exibir. Quando, em proveniência de um clube menor, são contratados por um grande, os jogadores vêm entusiasmados: se são portugueses, logo declaram que são adeptos daquele clube desde pequeninos; se são estrangeiros, juram que há muito tinham o sonho de jogar ali. Assinam por 4 ou 5 anos, posam com a camisola, prometem que vão ser campeões e, depois de uma visita guiada à sala de troféus do novo patrão, garantem que estão muito bem informados sobre o clube, o futebol local e o pais ou cidade de acolhimento. Mas, quando se trata de emigrantes em pais alheio, jamais os ouvimos falar depois sobre o pais ou a cidade onde estão: nenhum jogador do Real ou do Atlético de Madrid alguma vez disse que tinha visitado o Prado; nenhum jogador estrangeiro do Chelsea, do Arsenal,do Tottenham, é suspeito de se ter sido visto na National Gallery ou num teatro de Old Vic; nenhum jogador, dos que agora correm para o Mónaco, sabe coisa alguma de Monte Carlo, a não ser que é um paraíso fiscal e tem um Grande Prémio de Fórmula 1. Nunca os vimos com um livro sobre a história do pais onde estão (mas também nunca vimos um jogador de futebol com um livro, uma revista ou um jornal, nada mais que os inevitáveis headphones, que acham o cúmulo do in)... fim de citação

Miguel Sousa Tavares - "A BOLA"

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