sexta-feira, 28 de junho de 2013

Quando os défices tudo atingem



OS LIMITES DA INTELIGÊNCIA

Quando se anunciou a Expo para Lisboa foi por aí um grande entusiasmo. O Presidente da República, o primeiro-ministro (nessa altura, o dr. Cavaco) e o dr. Sampaio que andava pela câmara à espera de Belém não se contiveram. O que se disse parece inventado: que a Expo era a prova provada de que Portugal "estava na moda"; que o mundo se iria extasiar com a criatividade indígena; que, no fim, não custaria um tostão ao Estado; e que, além disso, não se podia conceber um "pretexto" (sic) tão bom para "reabilitar" a Lisboa Oriental. As coisas não correram como se esperava. O mundo, tirando a Espanha, ignorou largamente essa obra salvífica; a criatividade indígena não produziu nada de espantar; o custo da Expo e adjacências ficou por muitos milhões de contos mais do que o enérgico comissário Cardoso e Cunha tinha calculado (e que, de resto, ainda não se pagaram); e a zona ribeirinha da Lisboa Oriental, a mais valiosa, continuou tranquilamente a apodrecer ao sol. A Expo, essa maravilha, deixou só um novo arrabalde, longe do centro, uma ilhota de kitsch em homenagem aos seus lúcidos promotores.
O Porto, onde não há tanta megalomania, em vez de um espectáculo para impressionar o próximo, constituiu uma Sociedade de Reabilitação Urbana, que se destina fundamentalmente a atrair capital privado para a dita reabilitação. E os números referidos por Rui Rio mostram que a Sociedade acabou de facto por convencer o capital privado a investir centenas de milhões de euros na parte velha da cidade, criando emprego e, o que é melhor, emprego estável. Só que o Governo, desta vez na pessoa de Assunção Cristas, resolveu criar dificuldades porque achou excessivo o défice da Sociedade, sem presumivelmente perceber para o que ela servia, nem o serviço que prestava ao país. Algumas centenas de notabilidades do Porto já assinaram uma carta aberta para protestar contra esta aberração. Mas, a sra. ministra persiste na sua política de "cortes", que infalivelmente arrastarão outros "cortes" mais sérios e abalarão a confiança no Estado. A inteligência não abunda. 
A inteligência instalada bastou para construir a Expo e, com os dinheiros da Europa, 9468 quilómetros de estrada, 2353 quilómetros de via férrea, 662 edifícios para universidades e escolas e também para gastar 2 mil milhões de euros no abate de embarcações de pesca. Para mais não chega.

Vasco Pulido Valente - Público

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