quarta-feira, 19 de junho de 2013

Razões da miséria do País


COMO DE COSTUME

Não há ninguém em Portugal que não peça "crescimento": da direita à esquerda e à extrema-esquerda. Mas, desde o fim do século XVIII até hoje, e tirando uns 15 anos no fim da Ditadura, a economia não cresceu ou não cresceu tanto como se esperava e era preciso. O público informado atribuía geralmente a culpa desse perpétuo fracasso à organização política do país. Basta ler o que se escreveu sobre o assunto de 1820 para diante para constatar o desespero que o nosso melancólico "atraso" inspirava a toda a gente e a fúria com que se tratavam os sucessivos partidos do liberalismo. Isto levou primeiro à República e, a seguir, a Salazar. Infelizmente, nada mudou substancialmente com a experiência. A República preferiu fazer uma guerra inútil contra a Alemanha e Salazar achava a pobreza um dom do Altíssimo.
Qual é a razão última desta desgraça? O simples facto de que Portugal não tinha, e não tem, capital e um mercado doméstico capaz de absorver e fundar uma expansão a sério. Mesmo o progresso superficial da segunda metade do século XIX (estradas, comboios, algum melhoramento dos portos) foi pago pela Inglaterra e a França e criou uma dívida colossal, que iria explodir em 1891-92. Resultado: a indústria portuguesa acabou por se refugiar em cantinhos protegidos pelo desinteresse internacional: tecidos de má qualidade, como por exemplo a chita, a construção civil e, em muito menor escala, as conservas de Setúbal. E na agricultura, fora os cereais que o Estado indirectamente subsidiava e, como de costume, o vinho, a miséria continuava. Nenhum destes negócios (e a mercearia por grosso) chegava infelizmente para sustentar aventuras de outra dimensão.
Em 2013, a situação básica permanece. Falta o capital no Estado, na banca e também na esmagadora maioria de empresas, que a custo sobreviveram à crise. O mercado interno está na agonia, por causa do programa de "austeridade" que o Governo nos resolveu aplicar. E, como se isto não bastasse, a dívida aumenta e os juros são excessivamente altos. Coisa que não impede os peritos de recomendar, como aliás sempre se recomendou, que se recorra à putativa ajuda, aos fundos da "Europa", ao BEI e, de quando em quando, à mãozinha caridosa do BCE. Não se percebe que fruto trarão estas patéticas manigâncias, excepto o de alimentar fraudulentamente a esperança dos portugueses. Depois do som e da fúria da democracia, da sua enésima "modernização", Portugal voltou ao seu velho e lúgubre destino.

Vasco Pulido Valente - Público

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