COMO DE COSTUME
Não há ninguém em Portugal que não peça
"crescimento": da direita à esquerda e à extrema-esquerda. Mas, desde
o fim do século XVIII até hoje, e tirando uns 15 anos no fim da Ditadura, a
economia não cresceu ou não cresceu tanto como se esperava e era preciso. O
público informado atribuía geralmente a culpa desse perpétuo fracasso à
organização política do país. Basta ler o que se escreveu sobre o assunto de
1820 para diante para constatar o desespero que o nosso melancólico
"atraso" inspirava a toda a gente e a fúria com que se tratavam os
sucessivos partidos do liberalismo. Isto levou primeiro à República e, a
seguir, a Salazar. Infelizmente, nada mudou substancialmente com a experiência.
A República preferiu fazer uma guerra inútil contra a Alemanha e Salazar achava
a pobreza um dom do Altíssimo.
Qual é a razão última desta desgraça? O simples facto de que
Portugal não tinha, e não tem, capital e um mercado doméstico capaz de absorver
e fundar uma expansão a sério. Mesmo o progresso superficial da segunda metade
do século XIX (estradas, comboios, algum melhoramento dos portos) foi pago pela
Inglaterra e a França e criou uma dívida colossal, que iria explodir em
1891-92. Resultado: a indústria portuguesa acabou por se refugiar em cantinhos
protegidos pelo desinteresse internacional: tecidos de má qualidade, como por
exemplo a chita, a construção civil e, em muito menor escala, as conservas de
Setúbal. E na agricultura, fora os cereais que o Estado indirectamente
subsidiava e, como de costume, o vinho, a miséria continuava. Nenhum destes
negócios (e a mercearia por grosso) chegava infelizmente para sustentar
aventuras de outra dimensão.
Em 2013, a situação básica permanece. Falta o capital no
Estado, na banca e também na esmagadora maioria de empresas, que a custo
sobreviveram à crise. O mercado interno está na agonia, por causa do programa
de "austeridade" que o Governo nos resolveu aplicar. E, como se isto
não bastasse, a dívida aumenta e os juros são excessivamente altos. Coisa que
não impede os peritos de recomendar, como aliás sempre se recomendou, que se
recorra à putativa ajuda, aos fundos da "Europa", ao BEI e, de quando
em quando, à mãozinha caridosa do BCE. Não se percebe que fruto trarão estas
patéticas manigâncias, excepto o de alimentar fraudulentamente a esperança dos
portugueses. Depois do som e da fúria da democracia, da sua enésima
"modernização", Portugal voltou ao seu velho e lúgubre destino.
Vasco Pulido Valente - Público
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