terça-feira, 11 de junho de 2013

Ou acaba assim ou acaba mal


E O PRESIDENCIALISMO?

Sozinho, completamente sozinho, o dr. Cavaco Silva conseguiu arruinar a Presidência da República. A Presidência da República não tem hoje autoridade, influência ou prestígio. O último Conselho de Estado, convocado com um pretexto absurdo e pueril foi - não há outra palavra - ridículo; e só serviu para mostrar aquilo que o dr. Cavaco precisamente queria esconder: a impossibilidade de um compromisso entre o PS e o PSD. Até o comunicado final, preparado em Belém, provocou uma espécie de querela, porque, na sua primeira versão, alterava o que realmente se passara nas sete horas de conferência entre as várias "notabilidades", que na maioria discordaram entre si e quase todas do dr. Cavaco. Mas sem a Presidência como pode o país subsistir com um mínimo de estabilidade?
O Governo é um ajuntamento de tendências. O PSD importou para o Estado a sua guerra civil interna. Na aparência unido, o PS mostra dia a dia a sua intrínseca fragilidade. O CDS, empurrado para a esquerda e para a direita, pela troika e os seus servidores domésticos, não está na situação ideal para definir uma política capaz de unir os portugueses. E a extrema-esquerda persiste em perder o tempo nas suas fantasias de sempre. O regime, na realidade, acabou. O que obviamente não perturba a opinião oficiosa e oficial. O mais preliminar analfabeto, quando lhe falam da nossa falência institucional, faz profissão de fé na democracia e cita devotamente Churchill. Raras são as cabeças que percebem a natureza irremediável do que desde 2011 nos sucede: Portugal não voltará a ser o que era em 2005.
Os patetas de serviço não se calam com a urgente necessidade de "crescimento". Mas não ocorre a nenhum que a condição fundamental desse "crescimento" é a reforma radical do Estado. Por si próprios não meteriam (e não metem) um tostão honesto numa sociedade tão caótica e mutável como a nossa. O que manifestamente os não impede de esperar que a "Europa" e um indefinido e misericordioso "estrangeiro" algum dia o façam. Com um sistema fiscal que muda de semana a semana, com uma justiça que não funciona, com uma burocracia bizantina e com um governo que não manda, o regime na sua actual forma já não existe. E sem ela? Sem ela, existe em hipótese um governo francamente presidencial, escolhido pelo povo, que, da administração local à economia, arrume a casa. Assim é que não é maneira de viver.

Vasco Pulido Valente - Público

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