GOVERNO FRACO, GOVERNO FORTE
O Governo que vai empobrecendo Portugal - e não haja a menor
dúvida a este respeito - prometeu também em 2011 que faria uma reforma drástica
do Estado, que permitiria uma competitividade maior, mais crescimento e uma
simplificação nunca vista da burocracia central e local. Até agora, ignorou
tudo isto e ficou por malabarismos contabilísticos e remendos de ocasião:
aumento de impostos, diminuição de salários e um assalto desordenado às pensões
dos reformados (do público e do privado). Quando lhe pedem uma reorganização a
sério do país, não responde ou adia. Não tem para isso um plano A, nem um plano
B. Anda à deriva entre o que a troika lhe exige e a intensidade das reacções
internas, que dia a dia variam de espécie e de eficácia. O resultado é que
nenhum português sabe hoje o que o espera no futuro, amanhã ou, digamos, daqui
a vinte anos.
A paralisia e o caos do Governo derivam de um facto
essencial: o Governo é fraco. À superfície - com a maioria no Parlamento, o
apoio do Presidente da República e a garantia de um mandato completo -, parece
forte. Mas, na realidade, a maioria vociferante da esquerda não o deixa passar
um estreito limite: o limite do que não lhe custará inverter em 2015. Quanto ao
resto, a raiva militante entre o PS e PSD mata à partida qualquer hipótese de
colaboração; e Cavaco não se tenciona imiscuir no que ele considera a sopa
perigosa e turva da política. O Governo acaba assim forçado a buscar o dinheiro
àqueles com menor capacidade de resistência. Não por uma tendência ideológica
ou natural, mas porque as circunstâncias não o ajudam.
Imaginemos que Passos Coelho e Paulo Portas resolviam pôr
alguma ordem na administração local e reduziam o número de concelhos para 150,
um número mais do que suficiente para um país com o nosso território. Quase de
certeza caía o céu e não é de excluir um levantamento nacional, apoiado pelos
partidos da esquerda e da direita, incluindo o PSD, ou talvez mesmo com o PSD à
cabeça. Imaginemos também que o Governo anunciava a eliminação de uma ou duas
centenas de organismos do Estado, que não servem para nada, excepto para
emperrar e complicar a vida do cidadão comum. Isto que, em teoria, é um acto
benemérito e de bom senso traria fatalmente à rua dezenas de milhares de
pessoas e provocaria manifestações que talvez não tardassem a degenerar em
violência. Muita gente começa por aí a desesperar da democracia. Com alguma
razão: um Governo fraco costuma ser o caminho para um Governo forte.
Vasco Pulido Valente - Público
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